sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Contos do Leitor: O Lugar Secreto





Os Contos do Leitor está de volta. Dessa vez com uma nova história, dividida em cinco partes, o blog +A Casa do Leitor traz com exclusividade o conto "O Lugar Secreto", do autor +Guilherme Pereira Tonini.

A seguir, confira a primeira parte do conto:

O LUGAR SECRETO

Capítulo 1 - A Fazenda

Certa manhã Arthur acordou com um brilho intenso no seu quarto, tão intenso que mal conseguia abrir os olhos. Aquela luminosidade branca parecia lhe cegar. Mesmo assim, insistia em tentar abrir e olhar para a luz. De repente, o brilho se expandiu e foi-se. E finalmente pode abrir os olhos. Para seu espanto, estava deitado na sua cama, mas ao redor havia uma grande plantação de trigo.
- Estou num sonho! – resmungou tapando a cara com um travesseiro.
Arthur era um menino de dezoito anos que tinha uma personalidade bastante intrigante. Não era um garoto com grandes revoltas. Um aluno mediano na escola. Mas ao mesmo tempo, um menino de olhos tristes. As palavras saiam-lhe pela boca de modo breve. Arthur tinha paixão por tempestades. E nada mais podemos decifrar desse menino quieto por fora, mas inquieto por dentro.
As nuvens escuras que cobriam o céu cediam espaço aos raios luminosos do Sol que no momento parecia se despedir de mais um dia. O céu ganhou tons de amarelo e laranja. E a plantação de trigo ficou radiante aos olhos de Arthur.
Uma casa no topo de uma colina há algumas centenas de metros, chamou atenção do garoto. A curiosidade para entender tudo aquilo, se tornou maior do que a ideia de que tudo aquilo era apenas um sonho. Arthur esfregou as mãos sobre os olhos, e retirou-se da cama. Foi abrindo caminho com os braços no meio dos pés de trigo, até chegar à varanda daquela casa rústica. A casa não era muito grande, mas possuía além do térreo um andar acima. Não se podia ver alguém por perto, ou sinal de pessoas. Parecia abandonada. Arthur deu alguns passos, subiu alguns degraus, passou pela varanda empoeirada e pôs os dedos na maçaneta da porta. Um calafrio subiu-lhe a espinha, e temeu pelo que pudesse encontrar ao abrir a porta. E abriu.
Para espanto do rapaz, o ambiente no interior da casa era agradável, havia móveis, tapetes, havia aconchego ali. Foi caminhando em direção a uma sala cheia de porta-retratos virados.
No entanto, um barulho forte o fez congelar-se na posição em que estava.
- Olá! Qual o seu nome? – bradou uma voz feminina.
- Meu nome é Arthur. – disse tremendo de medo.
- Não tenha medo, Arthur. Relaxe e sente-se no sofá. Gosta de chá?
- Sim. – Não hesitou, tentando ser gentil.
Arthur se sentou no sofá e começou a observar cada detalhe da casa, algo havia de errado ali, tudo muito organizado e limpo. Mas os porta-retratos virados lhe aguçavam a curiosidade, porém, com receio de não ser agradável àquela mulher, que nem lhe mostrara o rosto, ficou ali a observar sentado, enquanto esperava pelo chá.
Após alguns minutos, a mulher apareceu para seu alívio e surpresa. Alívio porque não estava mais só naquela sala. Surpresa porque aquela senhora lembrava-lhe as personagens de séculos passados, trajando um vestido preto maltrapilho. Seu rosto era coberto por um véu negro que pouco deixava decifrar sua face.
- O chá está pronto.
Serviu para os dois e tomou cada um seu chá.
- Eca! É amargo.
- Ah! Perdoe-me, não recebo uma visita há séculos. E não estou acostumada a adoçar minhas refeições... Como o garoto chegou a minha fazenda?
- Faço essa pergunta desde que me encontrei sobre as plantações de trigo. Isso é um sonho?
- Sonho? O chá que bebes, é um sonho para você? A voz que ouves parece imaginação?
- Perdão, mas não quis me referir dessa maneira... Não faz sentido isso.
- Já é noite Arthur, e pelas olheiras que posso observar, você deve estar se sentindo bastante cansado. Tenho alguns quartos disponíveis. Acompanhe-me.
E foram à senhora e Arthur pela casa. Ela, levando em mãos uma lamparina lhe mostrou cada quarto que havia disponível. Depois de deixa-lo acomodado num dos quartos, despediu-se para mais uma noite de sono.
Arthur ficou deitado sobre os cobertores a observar, pela janela, a lua que despontava no céu estrelado daquela noite, até o sono vir.
Algumas horas depois, um barulho na maçaneta da porta do quarto, o acordou. A porta estava trancada, junto com Arthur no seu mundo. A senhora que o acompanhava lhe ofereceu aconchego, e deu-lhe teto, mesmo desconhecendo o rapaz. Suas intenções não eram tão obvias, porque Arthur não compreendia o que fazia naquele lugar. Arthur podia conhecer as ruas da sua cidade, os principais países de todos os continentes, os planetas que formavam o sistema solar, mas não conhecia um sentimento que o havia levado para aquele mundo: a solidão. A solidão lhe aprisionou no seu próprio ser. Arthur não conseguia mais confiar nem em si. E agora o desespero atacava sua alma. Tentava girar a maçaneta a todo custo, batia na porta. Mas nada além do silêncio, podia ouvir.
Foi então que teve a ideia de quebrar a janela de vidro, mesmo assim, era arriscado, estava há alguns metros do chão. Então, enrolou a roupa de cama em sua mão e deu um soco forte e certeiro no vidro que se estilhaçou. Subiu no telhado, mas já não havia mais lua. Iniciou-se um vento constante e cada vez mais intenso que arremessou Arthur para o chão. O redemoinho destruiu todo aquele lugar e acabou por leva-lo dali.

Capítulo 2 - O Amor Incondicional

Mãe é a única pessoa capaz de amar incondicionalmente. E mesmo depois do que seu filho aprontara, a mãe de Arthur, quando não estava no seu trabalho, passava as horas ao lado da cama do filho no hospital central da cidade.
- Filho, os médicos me falaram que por mais que estejas inconsciente sobre essa cama, era bom que conversasse contigo. Não sei quanto tempo mais ficará nesse estado, mas tudo o que quero é vê-lo de volta, sorrindo, ou nem tanto, chegando da escola, mesmo já acostumada sem teus abraços, tão distante, ainda o amo muito. Volta pra mim. Perdoe-me por todas as minhas faltas.
- Com licença. – disse a enfermeira que entrava no quarto.
A enfermeira chegou ao quarto e observou o menino desacordado, anotou alguns dados dos aparelhos que o cercavam, fez outras verificações e foi embora.
- Já está acabando o tempo do meu intervalo do almoço, preciso ir filho. Fique com os anjos. – despediu-se de seu filho beijando-lhe a testa.
A mãe correu para alcançar até enfermeira.
- Olá! Sou a mãe do menino que está no quarto A104.
- Aconteceu algo?
- Não. Mas gostaria de perguntar-lhe se é você... – olhou para o crachá da jovem – Beatriz, que estará de olhos em meu filho até o turno da noite.
- Sim, sou eu mesmo, que estarei de “olhos em seu filho”. – e sorriu.
- Bem, não quero ser inconveniente, afinal esse é o seu trabalho, mas cuida bem dele?
- Claro, pode deixar, ficarei bem atenta.
- Obrigada, assim posso ir mais tranquila.
Depois de falar com a enfermeira a mãe de Arthur foi até a sala do médico sobre o qual pesava a responsabilidade em relação à saúde de seu filho.
- Por favor, sente-se.
A mãe sentou-se numa cadeira e pôs sua bolsa noutra.
- Bem, já se passou uma semana desde que seu filho entrou em estado de coma. A falta de ar, e o fato dele ter engolido uma quantidade razoável de água faz nossa equipe se espantar com o quadro estável dele, apesar do coma.
- Eu não consigo entender o que fez com que ele se atirasse daquela ponte, o porquê dele querer tirar a própria vida. Apesar de ele ser um menino pouco sociável, sempre foi amável, e nunca demonstrou esse desejo.
- Senhora, não se culpe por isso. Foi uma decisão tomada propriamente pelo seu filho. Culpe-se pela atenção que deu a ele, nem sempre a forma como amamos alguém é forma como essa pessoa quer ser amada.
- Eu sou mãe, não me fale como devo amar meu filho. Faria qualquer coisa pelo Arthur, inclusive sacrificar minha própria vida.
- Talvez não tenha sido claro. Não se sinta ofendida, compreendo o que a senhora passa. E garanto que minha equipe está fazendo o melhor. Perdi meu filho há mais de dez anos, e entendo essa dor. Porém, se tudo ocorrer bem, seu filho ainda abrirá os olhos novamente.
- Sinto muito. – disse ela.
- Bem, mais tarde, à noite, dou mais informações do estado do Arthur. Agora tenho outro paciente me aguardando, passar bem.

Em breve, a segunda parte estará disponível com exclusividade aqui no blog +A Casa do Leitor.



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