quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Contos do Leitor: O Lugar Secreto - Parte 2

Por +Felipe Balthazar

A segunda parte do conto O Lugar Secreto, escrito por +Guilherme Pereira Tonini, pode ser conferido a seguir. Não sabe do que se trata? Então confira a parte um e entre no mundo de fantasias de Arthur clicando aqui.

3 - O Farol

- Abra os olhos Arthur.
Arthur abriu seus olhos e ainda era noite, mas não estava mais naquela fazenda, nem sob o redemoinho que o empurrara do telhado para o chão. Agora, estava em frente a um vulto, que mal podia ver com a luz que vinha do luar.
- Não tema. Sou o seu mestre, e estou aqui para ajuda-lo.
- Meu mestre? Como assim? Bem, primeiro me diga onde estou. Isso é um sonho, não é?
- Não é um sonho. Esse é o mundo que está em você. Por favor, façamos um rápido exercício. Feche seus olhos.
- Tá. Fechei, e agora?
- O que você consegue ver?
- Ué, nada!
- Exato. Você fechou seus olhos para a vida e escolheu a tristeza. Quando preferiu a solidão ao amor, você fechou os olhos para o mundo. Tudo em você começou a morrer, da mesma forma que as flores murcham. Pode abrir os olhos.
- Não consigo entender o que você quer dizer.
- Arthur, provavelmente não se lembre de como veio parar aqui, e isso é algo que tu terás que descobrir por si próprio. Porém, devo conduzi-lo para que possa retornar.
O mestre então tirou a capa que cobria seu corpo. A roupa que vestia cheia de estrelas brancas sobre um fundo azul marinho parecia brilhar como as estrelas daquela noite.
- Observe ao seu redor. Tu estás no farol. Esse não é um farol qualquer, o giro dele de trezentos e sessenta graus direciona a luz para onde devemos ir. É o seu farol, e quando chegaste aqui, tu o reativou.
- Parece ser muito bonita a vista daqui de cima.
- E, é. É um aspecto negativo de a noite encobrir aquilo que é belo, no entanto, é a mesma escuridão que faz o feio tornar-se belo.
- Ah! Claro, a escuridão encobre às imperfeições, tornando maiores as qualidades do que achamos que se é feio.
- Vejo que está evoluindo. Chegue mais perto, vamos observar o mar.
A luz do farol iluminava o céu e nada mais do que água podia-se ver. Até que algo chamou a atenção de Arthur.
- Aquilo lá é um castelo?
- Sim. O farol apontou seu próximo destino. - O mestre abaixou-se um pouco para conseguir enxergar nos olhos do rapaz e poder dizer. – Tu deves descer do farol, lá embaixo encontrarás um barqueiro, agora que já sabes para onde ir. Boa sorte!

4 - O Barco

Lá embaixo do monte, onde o farol permanecia sobre, havia dunas, de um lado o mar, e do outro um rio muito largo. Arthur foi devagarinho até o barqueiro. Aproximou-se, e pôs-se de frente ao mesmo. Que deixou de ser imóvel, e curvou-se diante do rapaz.
- Vossa majestade, como posso lhe servir?
- Me leve ao castelo que fica para lá. – e apontou para a direção onde a luz do farol mostrava o palácio.
- Ó, majestade, quê castelo? Não posso visualizar edificação alguma, não há nada para aquela direção, ao não ser escuridão.
Arthur ficou confuso. Aquele era um mundo que para si era imaginário, se não bastasse isso, estaria tendo alucinações na sua própria imaginação, pensou. O mago então apareceu para intervir.
- Olá, Arthur! Fico feliz por ter conseguido chegar ao barqueiro. Senti que precisavas de mim e cá estou. O que houve?
- Bem, o barqueiro insiste que não consegue ver o castelo que meus olhos apresentam cada vez que o farol expõe sua luz naquela direção.
- Oh! Mas o barqueiro realmente não pode avista-lo. O castelo é seu, e existe apenas para você. Cada criatura que você tem contato nesse mundo é restrita ao seu lugar. Antes lhe falei sobre como havia fechado os olhos do seu coração para os bons sentimentos, isso por insegurança. Medo. E questionamentos na maioria das vezes.
- Sim. Mas se o barqueiro não pode visualizar nada para além daqui, então como ele faz a travessia de uma margem para outra do rio, se são dois lugares distintos?
- É simples, ele não faz. O barqueiro é apenas uma criatura criada para que você se lembre de que quando nos sentimos sós, sem em quem confiar, podemos contar com si próprio. E é nessas vezes que descobrimos que somos mais fortes do que podíamos imaginar. Nossa resiliência aparece nessas situações, quando utilizamos a energia que está armazenada ai dentro, e nem sequer percebemos.
- Ah! Compreendi. Mas se o barqueiro não atravessa o rio, e se você induz que sou capaz de chegar ao castelo sozinho, como farei para atravessa-lo?
- Você acaba de chegar à conclusão que queria, agora, utilize a seu favor. Encontramo-nos por ai...
O mago se esvaíra. Arthur olhou para o barqueiro imóvel, e ao barco que continha dois remos. Pediu licença ao barqueiro e assumiu o barco.
O rapaz remou com muita intensidade, mas a sensação é que o volume do rio aumentava a cada braçada. O brilho da lua cheia iluminava as águas, o que trazia um pouco de alívio. O castelo parecia perto, porém desapareceu subitamente.
- Ó, e agora?
- Bela noite, não é? – disse o mago admirando o luar na ponta do barco.
- A lua está magnífica essa noite, mas não sei se posso dizer que é uma bela noite. Não consigo mais avistar o castelo, e o balançar do barco por conta da maré alta me fez perder a direção.
- Certo! Você acaba de perceber que perdeu o rumo.
- Exato.
- Você está só, determinado a atingir seu objetivo que é atravessar o rio. Porém, os ventos não parecem soprar a seu favor. No meio de um rio nada calmo, começando a sentir um pouco de cansaço.
- Isso eu já sei, mas como sair dessa?
- Eis, a indagação. O que você tem a sua volta?
- Ah... Água?
- Certo. Mas não é apenas água, você tem o reflexo do luar.
- Como isso pode me ajudar?
- Quando parece que os ventos sopram contrários, reflita. Sempre há uma saída para seus problemas, por mais simples que parece. Olhe para a lua.
- Estou olhando.
- A lua é nosso satélite natural, utilize-a.
E o mago sumiu mais uma vez. Arthur parou de remar. Observou mais uma vez a lua. Olhou a sua volta, e foi mais além. Deixou de observar apenas ao seu redor e lançou-se ao horizonte. Estava óbvio, onde o brilho das águas se perdia, era a outra margem.
- Como sou besta! Não percebi o que estava bem diante de mim, mais perto do que cheguei a imaginar.
Mais algumas dezenas de remadas e estava em terra firme.
Empurrou o barco até sentir que estava encalhado num banco de areia. Afinal não sabia se o precisaria para voltar. Dali pra frente era seguir por uma densa mata ou pela costa. Coçou a cabeça, e decidiu que ir pela costa era mais seguro e fácil. Quando olhou para trás a fim de conferir se o barco estava seguro, o rio já empurrara o barco de volta para as águas.



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Em breve, a terceira parte estará disponível com exclusividade aqui no blog +A Casa do Leitor.

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